Luciano Luz de Lima
PT 43 anos: contradições, resiliência, desafios e esperança
Luciano Luz de Lima
Advogado, mestre em Ciência Política, secretário de Assuntos Internacionais do PT/RS
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Em 10 de fevereiro de 1980 no Colégio Sião, em São Paulo, era fundado o Partido dos Trabalhadores. Faz 43 anos que operários, convencidos de que era preciso ter partido político próprio para influir na luta política nacional, se aliavam a grupos de esquerda opositores à ditadura militar, aos religiosos da teologia da libertação, a intelectuais e estudantes, para formar o mais importante partido da esquerda latino-americana e um dos mais importantes do mundo atual.
No final dos anos 80 e início dos 90, importantes experiências de construção de economias não capitalistas, em especial a União Soviética, eram derrotadas pelas ações dos países imperialistas, provocando crise enorme nos tradicionais partidos comunistas e socialistas. É nesse momento histórico que o PT, sob conjuntura local de derrocada do fascismo militar e descontentamento do povo com as mazelas do capitalismo dependente, floresce e cresce, tornando-se referência e alternativa para grande parte da população trabalhadora do País, sendo um fenômeno da esquerda mundial.
Resultante de complexos processos internos, correlacionados com condicionantes da conjuntura externa e adaptação ao sistema político brasileiro, o PT passou a possuir hegemonia programática pautada nas ideias de regulação do mercado para garantia de desenvolvimento que gere bem-estar social à população, embora permaneçam fortes no partido as ideias que consideram esse escopo programático limitado, defendendo a necessidade de se superar a própria "economia de mercado".
É com essa ideia, chamada por alguns de "neodesenvolvimentismo" e por outros de "social democracia", que o PT chega à Presidência da República em 2003, sob a liderança de seu fundador e líder popular, Lula, passando a implementar políticas que melhoraram as condições de vida da população e levaram ao aumento dos índices de crescimento econômico. Mas os limites do capitalismo dependente, em especial a partir da crise econômica mundial de 2008, não permitiam mais que as classes dominantes associadas ao capital internacional tolerassem o uso dos fundos públicos para promoção de um estado de bem-estar social. Apoiada em reprimido caldo cultural conservador das classes médias e propaganda massiva de processos judiciais fraudulentos contra as principais lideranças do PT, em 2016 a burguesia brasileira promove mais um de seus golpes de Estado, dessa vez de caráter parlamentar. Na sequência, como parte da escalada conservadora, a fraude judiciária da Operação Lava Jato leva o maior líder popular de nossa história à prisão. Era, portanto, o fim do PT, de Lula e seu projeto de igualdade social.
No entanto, essa ferramenta construída pelo esforço de milhões de trabalhadoras e trabalhadores anônimos mostra capacidade de manter-se viva sob condições de adversidade extrema. O golpe e a prisão de Lula são permanentemente denunciados e mobilizam diversos movimentos sociais, o que resulta na manutenção da força política do PT e na soltura de Lula. O desastre a que o País foi submetido pela aventura golpista e seu projeto de intensificação da exploração do trabalho forma na maioria da população a vontade de retomar caminho de crescimento com igualdade, levando Lula de volta a Presidência.
O PT, Lula e aliados têm agora o gigantesco desafio de governar um País devastado pela agenda neoliberal dirigida por saqueadores fascistas nos últimos quatro anos, que, mesmo derrotados, mantêm-se mobilizados em ações de sabotagem e tentativas sequenciais de golpe. Há, ainda, cenário de crise da economia mundial capitalista afundada na ameaça de recessão e na guerra.
Não será fácil navegar por águas tão revoltas, mas tão grande como o desafio é a esperança e a força de vontade que levou a classe trabalhadora do Brasil a fundar o PT e buscar dias melhores. Ver nesses primeiros dias as ações do governo Lula de proteção e resgate do povo Yanomami e a interrupção de seu genocídio já nos enche de mais esperança. Valerá a pena, venceremos! Viva os 43 anos do PT!
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